Viajamos no Carnaval.
Você viajou para ficar sossegado, ou foi pular Carnaval na avenida. Nós fizemos os dois. Fomos procurar a festa em cantinhos que nem todos conhecem. Visitamos cidades da Grande São Paulo, vimos desfiles de escolas que estão longe ainda de alcançar a fama, sambamos no nevoeiro londrino de Paranapiacaba, vimos as casas de índios e bandeirantes ao som de marchinhas famosas em Santana do Parnaíba e vamos contar tudo com riqueza de imagens. Acompanhe!
Hoje é Quarta-feira de Cinzas, então, nada melhor que contar para você como foi o nosso Carnaval.

Imagine a vista que você tem deste mirante.
Nossas viagens carnavalescas começaram na sexta-feira, 13. Sem dar atenção alguma a crendices, fomos ao MAC USP, Museu de arte contemporânea, que fica em frente ao Parque do Ibirapuera. Se você não conhece ou não está ligando o nome à pessoa, o MAC que ficava na Cidade universitária agora está em enormes oito andares, anexo e mirante, no antigo prédio do DETRAN de São Paulo. Para os amigos de fora, basta ir até o Parque do Ibirapuera e atravessar a passarela para o outro lado da via.

Só uma amostra das exposições. O MAC tem acervo permanente e temporário.
Sábado, 14 – Carnaval de Rua em Santana do Paranaíba.

Jovens e crianças tomam conta das ruas e do pátio atrás da Igreja Matriz.
Cidadezinha a 40 minutos de carro de São Paulo. Fomos de transporte público. Intermunicipal é um pouco mais caro. Reserve alguns trocados.
Atravessamos a Estrada dos Romeiros, ao menos era o que estava escrito na placa indicando SP 312, logo após nossa saída de Barueri.
O coreto decorado, as ruas com casas de século 19, festinha no clube para as crianças, palco e som atrás da Igreja Matriz.

Carnaval para crianças no Cine Teatro.
Atacamos o sorvete e bebemos chopp no restaurante Trem de Minas, de comida a quilo. Só não fomos para comer.
O palco atrai gente da região e os blocos vão se reunindo aos poucos. O bacana da cidade é ter estrutura, com banheiros químicos bem organizados e limpos, pelo menos quando precisei. A festa mesmo começa depois das 15h.

E o coreto está devidamente decorado.
Domingo, 15 – Carnaval em Paranapiacaba

O bloco passeia a cidade toda. O que não é nenhum esforço.
Na verdade não é uma cidade, mas um distrito de Santo André que está a 50km de São Paulo.
O Carnaval de rua segue pelo lado de baixo da vila e depois de percorrer o lado inglês da cidade, faz concentração no clube.

As ‘puliça’ também vão à festa.
Durante o percurso do bloco, era impossível estar na cidade e não ouvir o som das marchinhas do tempo da vovó. E o povo ia, fantasiado, de roupa trocada, disparando jatos de espuma, cantando e pulando, com ou sem máscara, de cara limpa ou pintada. E a alegria continuava.

Alguns levam a sério essa coisa de diversão.
Chegamos antes de 14h e eu mesmo achei que já era tarde, mas saímos depois de 19h e ainda tinha gente de toda a região chegando. E tome festa!

E sempre há espaço para romantismo.
No clube, a criançada brinca do lado de fora, num parquinho, mas jovens e adultos e até os mais velhos está lá, pulando e cantando marchinhas.

E espaço para as crianças também.
Segunda, 16/02/2015 – Desfile de Carnaval com Grupo 3 em Vila Esperança.
Com chuva mesmo, fomos até a Linha Vermelha do Metrô de São Paulo. A passarela alta serve de camarote, com muitos seguranças e presença marcante da polícia militar.
Abaixo, as arquibancadas eram alegremente regadas por muita chuva e as escolas do grupo 3 do acesso percorriam a avenida com um único carro alegórico.

Desfile da Dragões da Vila Alpina. Quando o sonho é maior que a avenida.
O sonho da fama ou o amor ao bairro de origem faziam pessoas comuns desfilarem com o vigor de quem está nas agremiações mais famosas. De onde estávamos, pudemos observar os regentes de cada bloco, dando instruções aos passistas, acelerando, corrigindo, segurando os mais apresados. Organização e timming.

Repare na moça que vai à frente. Ela coordena os movimentos dos integrantes da comissão de frente.
Chegamos na passagem da segunda escola, Dragões de Vila Alpina, com seu carro vermelho e amarelo com uma grande cabeça de dragão. O enredo falava em não desistir, não se deixar enganar. A velha tristeza brasileira sobre a política e de como estamos atarefados no cotidiano, mas que não podemos deixar acomodar.
Em seguida, entra a União da Vila Albertina. Seu carro único, esparramava brilhos soprados em pedaços de papel alumínio. Parecia um pouco menor que o carro da rival anterior. Cantava as belezas da cidade e as dificuldades da metrópole.

União de Vila Albertina. A periferia com seus instantes de estrelato, esforça-se para ser num dia o que queria ser durante a vida. Passistas e foliões remexem ao ritmo de trens e e do Metrô ao lado.
Oito escolas desfilaram naquela noite.
Um carro alegórico cada, orçamento apertado, chuva, trânsito desviado, pouca gente na arquibancada devido ao tempo inclemente. E as cenas que vi enquanto o show acontecia.
Recluso e cansado, um mendigo deitado debaixo da passarela de saída da estação do Metrô tentava insistentemente dormir, mas se debatia por causa do som alto dos desfiles.

E aqui, o cidadão que se debatia e contorcia. Debaixo da passarela, tentando dormir, alheio a qualquer festa. Seu sonho é interrompido pelo som alto dos sonhos alheios.
Na passarela alta da estação, uma sem teto sambava feliz e esquecendo que o amanhã sempre chega, arrastava na passarela do Metrô suas botas reaproveitadas, sem medo dos guardas, sem ser incomodada pelos seguranças.

A realidade cede aos poucos espaço a uma fantasia que embriaga e ajuda a esquecer. Hoje ela não será expulsa pelos seguranças, não será desrespeitada pela PM. Hoje e apenas hoje, ela pode ser princesa no alto de seu castelo.
As crianças riam de tudo. Fadinhas, borboletas, super-heróis, princesas e outros personagens. Todos queriam seu naco de sonho. E a chuva descia lenta sobre todos.

A organização me chamou muito a atenção. O líder de equipe, o trabalho dividido em departamentos, o empenho de cada integrante, o trabalho análogo ao escravo, em condições insalubres, tarde da noite, sem equipamento adequado ou segurança; nada além do elogio ao final da jornada.
Há muito mais ainda para falar sobre Santana do Parnaíba e Paranapiacaba. Estes dois lugares vão receber atenção exclusiva em postagens futuras. Mas quem quiser saber mais pode escrever para A Bússola Quebrada. E vamos esperar o próximo Carnaval!
Dicas de Viagem
- MAC USP Ibirapuera – http://www.mac.usp.br/
Terça das 10 às 21 horas, quarta a domingo das 10 às 18 horas
Segunda-feira fechado
Avenida Pedro Álvares Cabral, 1301
04094-050 – São Paulo – SP – Brasil
55 11 2648.0254
Entrada gratuita
- Santana do Parnaíba – http://www.santanadeparnaiba.sp.gov.br/
De carro, siga pela SP 312, saindo pela Anhanguera.
Se for de transporte público, Use o trem saindo da estação Barra Funda do Metrô. Pegue a linha Turquesa. Desça na estação Barueri e pegue o ônibus para Pirapora, número 424, a 50 metros da estação de trem, virando à esquerda e esquerda de novo. É o último de 4 pontos de parada.
Nosso percurso deu quase duas horas.
Você também pode pegar ônibus no alto da Lapa. Melhor perguntar saindo da estação Lapa da CPTM.
- Paranapiacaba
Pegue o trem da CPTM na estação Brás, sentido Rio Grande da Serra. Ao descer, vá para a esquerda da linha do trem. O ponto de ônibus é atendido por micro-ônibus e ônibus articulado, que é mais barato e eu achei mais seguro. Desça no ponto final.
- Carnaval na Vila Esperança.
Os blocos do grupo 3 desfilam no sábado, domingo e segunda de Carnaval, ao lado do Metrô Vila Matilde, Zona Leste de São Paulo. Vá de Metrô.
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